Opinião: Floresta Petrificada do Tocantins Setentrional

Anísio Cláudio Rios Fonseca (de Formiga/MG)

Opinião: Floresta Petrificada do Tocantins Setentrional
Anísio Cláudio Rios Fonseca é professor do Unifor-MG, coordenador do laboratório de miner alogia e especialista em Solos e Meio-Ambiente




Recebi um livro excepcional do Prof. Dr. Marcondes Costa, grande pesquisador e amigo da UFPA. Este gentil profissional das ciências geológicas possui mais de quarenta livros e capítulos de livros publicados e cerca de duas centenas de artigos científicos na área de lateritização, sendo o mais renomado profissional no mundo nesta área; e tem tempo de se lembrar dos amigos. Quanto orgulho eu tenho! O livro que ganhei trata do mais importante registro florístico fóssil tropical-subtropical permiano no Hemisfério Sul. É que há cerca de 280 milhões de anos o estado do Tocantins abrigou uma floresta que hoje é considerada o maior monumento natural fossilizado do mundo. Localizado no município de Filadélfia, o Monumento Natural das Árvores Fossilizadas do Tocantins foi criado legalmente no ano de 2000 e abrange uma área de 32 mil hectares no Cerrado. Em seus sítios paleontológicos são encontrados fósseis de plantas primitivas como pteridófitas, esfenófitas, coníferas e cicadáceas. Segundo informações do site do Governo do Tocantins, as rochas do local são portadoras de notável e abundante material fossilífero, representado por restos de plantas pouco estudados. Ali se destacam samambaias arborescentes que se distribuíram largamente pela Terra no neopaleozóico. Isto indica que a região central do Tocantins era uma planície costeira com um portentoso sistema hídrico durante o período Permiano. A preservação dos vegetais se deu por um processo de permineralização, onde a infiltração de sílica nas células e nos espaços intercelulares formou uma matriz inorgânica que sustentou os tecidos das plantas, preservando-os. 

Estes fósseis ainda são pouco estudados e constituem importante parte do patrimônio científico mundial. Grande parte do material é de fósseis de samambaias do gênero Psaronius sp. já extintas. Elas chegavam a ter dez metros de altura e uma das mais abundantes era o Psaronius brasiliensis. A fossilização foi tão perfeita que é possível observar estruturas celulares, esporos, tecidos e toda a estrutura interna dos organismos. Devido ao excepcional estado de preservação das plantas fósseis, a região possibilita investigações em diversos níveis e especialidades. 

Entretanto, infelizmente o que ainda se vê são os gringos roubando nossos tesouros através de indivíduos inescrupulosos que fazem do comércio ilegal de fósseis uma lucrativa atividade. A legislação nacional proíbe a comercialização de fósseis nacionais. Se por um lado é bom proteger certas riquezas naturais, mas leis assim não podem ser tão extremas. É só deixar um cantinho para a mineração e tombar o resto, pois acredito que o cidadão comum tenha o direito de possuir seus artefatos feitos com este material, como ocorre em países desenvolvidos. 

Espero que a região seja preservada de maneira inteligente, sem nenhuma medida extrema que induza a ilegalidade. Aproveito para convidar meus queridos leitores a conhecer nosso acervo de árvores petrificadas lá no Laboratório de Mineralogia no UNIFOR-MG, dentre outras curiosidades mineralógicas.