Opinião: Natal em lata de tinta
Robledo Carlos (de Divinópolis/MG)

Era um simples galho de jabuticaba, bem cheio de pequenos nódulos, escolhido a dedo.
Uma boa lata de tinta vazia para o suporte de sonhos, de bolas coloridas e frágeis, assim como todos nossos sonhos.
Mas era necessário a areia, íamos no campinho e trazíamos a areia clarinha como açúcar para a sustentação.
Viriam também cartões de Natal com pequenos cordões coloridos, com Papai Noel sobrevoando casinhas sob o céu estrelados, que deveriam ser respondidos com esmero carinho.
A espera mágica de euforia, ansiedade e muito amor.
Uma mão de tinta branca e era só jogar pequenas bolinhas de isopor, que grudavam à tinta, assim como a neve. Um pouco de barba de pau caracterizava o clima ainda mais.
Um boa pitada de contos de árvores passadas, de sorrisos e gargalhadas e com cheiro de pernil assado.
Ainda lembro-me do brilho de seus olhos, hoje sei o que diziam eles, até as marejadas daqueles verdes, eu sei o porquê.
Era um misto de felicidade e de despedida, nascia e morria logo alguns dias depois.
Se tornava um galho velho e alguns cacos de bolinhas e papéis coloridos amassados.
Fiz esse mesmo rito com os meus algum tempo atrás, queria que vissem, quem sabe, sentir o que senti.
Nada de árvore de plástico, era só todo o mesmo rito de estarmos juntos nesse momento em que ela criou, que eu senti e dei de presente a eles.