Opinião: Normal
AC de Paula (de São Paulo)

De repente, não mais do que de repente, vivemos uma distopia presente, fomos todos figurantes de Eu sou a lenda, com a única vantagem de que, ao contrário do filme onde apenas um pesquisador solitário tenta encontrar o remédio para a cura, havia muitos pesquisadores pelo mundo todo em busca da solução para conter o vírus que se espalhava muito rapidamente dizimando milhares de pessoas.
Ninguém saiu ileso, pois ninguém é o mesmo depois que tudo isso que passamos, as consequências são inevitáveis e quem viveu viu, ou melhor, sentiu na pele. Não quero ser arauto do apocalipse, mas não há como dourar a pílula da realidade do caótico cenário, fomos todos nós, mais do que nunca, uma bomba prestes a explodir, o isolamento social apenas amenizou os números das estatísticas, ou seja retardou o processo.
Há algumas décadas a nave espacial LUNIK 9 nos dava a esperança de um promissor futuro o COVID 19 nos encheu de medo do ontem, do hoje e do amanhã! Sempre teimei em acreditar na luz no fim do túnel, entretanto, confesso que procurava e não encontrava sequer o túnel, o que dirá a luz? A crueldade desta realidade é tanta, que a gente acaba por acreditar que há não muito tempo, notícia ruim era apenas aquela que se referia a escândalos de corrupção.
E por falar nisso, no lugar em que o inusitado acontece, L voltou com tudo apesar de tudo que se sabe a seu respeito. Coisas tupiniquins que não se explicam.
Pelos poderes de Grayskull, o super-herói tem a força, pelos poderes do voto o Capitão do Barco Brasil tinha a caneta, muito mais poderosa do que a espada do He Man. Mas, no entanto, ele parecia aquele garotinho mimado ruim de bola dono da gorduchinha, que se os outros não jogassem na posição que ele queria, metia a bola embaixo do braço e ninguém jogava mais.
Além disso, temos que admitir que por aqui, na atual conjuntura, um cidadão vira herói simplesmente por fazer a coisa certa, ainda que seja muito bem pago para isso! Aí o sujeito estava no isolamento e se tinha um emprego teve redução de salário na melhor das hipóteses, pois perder o emprego significava engrossar as estatísticas de desempregados. Os profissionais liberais, autônomos, avulsos, informais, ficaram no mato sem cachorro já que as dívidas continuaram a chegar e se trabalhando normalmente eles precisavam dar nó em pingo d‘água para driblar a zaga dos boletos, faltou água e ginga para pedalar as contas. E não adiantou apelar pela pretensa brasilidade divina, apesar de não cair uma folha sem que ele queira como dizem, a realidade é que a fé, as orações, os passes espirituais são lenitivos para a alma, para acalmar talvez mentes e corações, mas a cura do vírus é competência da ciência e da medicina.
Hoje posso dizer que estou tranquilo depois da quarentena compulsória, mas acho que qualquer dia só pra não perder o costume vou continuar contando os grãos de arroz no saco de cinco quilos, parei no 14684, tudo normal, mas agora posso dizer que no dia de ano novo pensei em quebrar a abstinência e tomar uma caipirinha de álcool em gel, e depois ficar esperando o Papai Noel e seus sete anões, que viriam nas asas dos sonhos escoltados por um batalhão de elefantes marinhos, para ajudar o Saci Pererê a distribuir os saquinhos de doces da festa de Cosme e Damião.
Estou perdido no horário, é que quebrou o ponteiro da minha ampulheta e eu acho que este fogo nos miolos é efeito da camada de isopor agravado pela exposição dos meus fantasmas que saíram do aquário das minhas memórias. Tem gente que diz que esse tal isolamento social fez mal pra saúde mental, eles não sabem de nada, depende de cada um, eu como vocês podem ver estou bem como sempre, eu acho que até melhorei um pouco! Agora preciso ir, é hora de fazer umas tapiocas de manjuba com churrasco grego regado a mel de abelha silvestre, li não sei onde que é bom pra afastar qualquer vírus.