Opinião: O churrasco
Manoel Gandra (de Formiga/MG)

O ano era 1988 e as campanhas para as eleições municipais começavam a esquentar. Faltavam poucos meses para o radialista e ex-presidente Jaime Mendonça dar uma balaiada histórica em Ninico Resende.
Vindo da comunidade de Nova Zelândia, o produtor rural Jaime do Zé Sinhá começou a aparecer com chances reais de chegar ao Legislativo, mas apenas os votos da zona rural não garantiriam as eleições. Era preciso aparecer e, se possível, ao lado de seu xará Jaime Mendonça, que já estava com a eleição garantida.
Notando que o Jaime de Nova Zelândia se demonstrava meio tímido durante os comícios, o animador e também radialista Aureliano Pinto (Landico) se propôs a ajudá-lo. Falava sempre nele, pedia palmas e dava um jeito de fazê-lo falar em cada encontro público. Não deu outra, Jaime do Zé Sinhá foi muito bem votado e acabou sendo eleito.
Passada a posse, o já vereador Jaime foi à casa de Landico agradecê-lo. Bate na porta e o Serginho, filho mais velho, vem atender.
__Ô pai, tem um moço aí querendo falar com o senhor.
__Mande entrar...
__Ô Landico, sou eu, o Jaime do Zé Sinhá...
__Vamos chegando, vereador.
__Ô Landico, eu vim aqui para dizer que devo minha eleição a você. Se não fosse sua ajuda eu não teria chegado lá. Olha, eu quero fazer um agrado...
__Que é isso? Não precisa não. Eu fiz tudo de coração...
__Faço questão. Você gosta de um churrasquinho, Landico?
Foi só ouvir a palavra churrasquinho que os olhos de Serginho brilharam. Ele correu para contar a boa notícia para o seu irmão, o Flavinho.
__Olha Jaime, eu não quero nada não. Mas, na semana que vem, é o aniversário da Maria Célia, minha esposa, e já que você falou em churrasquinho, acho que não vou recusar a gracinha que você quer fazer.
E ficou tudo combinado. No dia previsto, pára o vereador com uma caminhonete na porta da casa do radialista:
__Ô Landico, eu vim trazer minha ajudinha pro churrasquinho...
Flávio e Serginho pularam do sofá. A expectativa era grande até que Jaime tira do carro um saco de carvão.
__Olha Landico, é de madeira de lei. Tá sequinho, sequinho...
Flavinho e Serginho caíram no choro. Landico agradeceu a “gracinha” e Jaime foi embora levando na consciência a certeza de que não devia mais obrigação a ninguém.