Opinião: O São Vicente do Padre Remaclo
Lúcia Helena Fiúza (de Belo Horizonte/MG)

Meu pai contava que todo Fernando que nasceu em Formiga na década de 1940 leva o nome em homenagem a um padre alemão que estava naquela época na Paróquia São Vicente Férrer. Muito querido, Padre Fernando era conselheiro de família e muito respeitado, todos lhe davam ouvidos. Não é sabido o seu fim, se ele foi embora ou se faleceu e foi sepultado na cidade.
Dias atrás, eu e minha irmã Cecília comentávamos sobre os padres que estiveram em Formiga e, curiosamente, encontramos três alemães: além do Padre Fernando, teve também o Padre Remaclo Fóxius e o Padre Klemente, esse último conhecemos bem e morríamos de medo de confessar com ele. Era grandão, usou batina preta a vida inteira e mancava de uma perna. Ele falava alto, só que o que dizia não dava muito para entender muito bem. Lembramos que toda manhã ele ia de quarto em quarto no Hospital São Luiz rezar com as famílias e dedicar conforto. Se apareceram outros padres alemães depois dele, não temos notícia.
Já o Padre Remaclo Fóxius era digno de adoração, um homem que muitos acreditavam santo. Reverenciado tanto nas classe populares quanto na elite, o padre, não há dúvidas, foi o mais influente sacerdote que a cidade já teve. Acabou virando nome de bairro, de rua e até de cantina popular. Há quem conte que no dia em que morreu, um incêndio tomou um posto de gasolina na Praça Ferreira Pires. Assim que apareceu uma multidão encaminhando seu féretro para o Cemitério do Santíssimo Sacramento, um temporal chegou à praça apagando o fogaréu.
Certa vez, contava papai, em conversa com um coveiro do Santíssimo chamado Quinca, ele ouviu que o túmulo mais visitado do cemitério era o do Padre Remaclo, disse que todo dia aparecia (e deve aparecer até hoje) alguém colocando uma flor ou acendendo uma vela para fazer um pedido ou para agradecer uma graça.
Do coveiro, papai ouviu histórias fantásticas envolvendo os mais diferentes pagadores de promessas ajoelhados ao lado do túmulo do padre. De tudo o que o Seu Quinca contou, um fato marcou e, curiosamente, pode ser comprovado.
Disse ele que depois do sepultamento do Padre Remaclo, foi encomendado um túmulo de granito com a imagem de São Vicente Férrer, padroeiro da cidade. Esse São Vicente foi um padre Capuchinho espanhol que nasceu em 1350 na cidade de Valência.
Pois é, o túmulo foi encomendado, chegou com uma imagem linda de São Vicente, foi montado e está sendo visitado até os dias atuais. O problema foi que o São Vicente que veio foi outro, foi o São Vicente de Paulo, um padre francês nascido em 1581 em Paris. Para não alardear e decepcionar os fiéis, a paróquia não se animou em relevar a confusão e o São Vicente de Paulo está até hoje decorando o túmulo do maior devoto de São Vicente Férrer que a cidade já teve. Quem duvidar, é só ir lá conferir,
Registro histórico: na década de 1970, houve um padre de Itapecerica que queria que o ex-prefeito Ninico mudasse o padroeiro da cidade, já que São Vicente Férrer seria “um ilustre desconhecido”. Ninico ouviu, mas não deu ouvidos.