Opinião: O Senhor do Tempo

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho (de Passos/MG)

Opinião: O Senhor do Tempo
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho é advogado. (luizgfnegrinho@gmail.com)




O tempo é um senhor elegante e impiedoso. Não tem pressa, mas nunca se atrasa. Anda ao nosso lado desde o primeiro suspiro, silencioso, paciente, sabendo que, mais cedo ou mais tarde, seremos forçados a reconhecê-lo. No começo, fingimos que ele não existe. Na juventude, somos velozes, ágeis e cheios de certezas, acreditando que o tempo é apenas um detalhe, uma maré que jamais nos alcançará. Mas ele segue firme, discreto, aguardando o momento de se fazer notar.

Chega uma hora em que a ilusão se desfaz. Para quem atravessou sete décadas, o tempo não é mais uma ideia distante — ele mora no corpo, nas dores que se instalam sem aviso, no fôlego que falta nas pequenas tarefas, no peso das manhãs. Já não somos aquele carro moderno, cheio de tecnologia, que desliza suave pelas estradas da vida. Somos mais parecidos com um velho Opala, outrora robusto e potente, mas agora marcado pela ferrugem do tempo, com peças que não se encontram mais e mecânicos que viraram lenda.

O tempo não pede licença para mudar a rota. A gente tenta planejar, criar metas, seguir receitas mágicas para a longevidade — exercícios, dietas, pensamentos positivos — como se fosse possível enganá-lo. Mas ele tem seus sortilégios. De repente, sem aviso, muda tudo: a saúde fraqueja, os amigos se vão, a memória falha. E então percebemos que não há como resistir à correnteza. Por mais que lutemos, o tempo sempre vence.

 A verdade, dura e implacável, é que ninguém — nem o homem mais poderoso do planeta — pode viver um minuto a mais do que lhe foi concedido. Não há barganha, não há escapatória. Mas, talvez, haja sabedoria em aceitar esse pacto silencioso. O tempo, com toda a sua severidade, também nos dá algo precioso: a consciência de que cada instante é único, de que cada encontro pode ser o último, de que a vida, mesmo com suas dores e limitações, é um presente frágil e belo.

Não podemos frear o relógio, mas podemos aprender a ouvir o seu tique-taque. E, quem sabe, encontrar alguma paz nesse compasso inexorável. Como disse Santayana, “O tempo, para os sábios, não é um inimigo, mas um mestre silencioso que revela a verdade de cada instante.” 

 Assim, que ele nos encontre de pé, firmes e valentes, enfrentando o calendário com galhardia e coração forte. Pois, se o tempo é senhor de tudo, ainda somos senhores de como escolhemos viver cada dia. No fim, não é o tempo que passa por nós. Somos nós que passamos pelo tempo.