Opinião: Paranoia formiguense

Lúcia Helena Fiúza (de Belo Horizonte/MG)

Opinião: Paranoia formiguense
Lúcia Helena Fiúza é professora aposentada




Resolvi viajar para Formiga para assistir ao jogo Brasil x Camarões junto com a família. A partida pela Copa do Mundo foi na sexta-feira à tarde, saímos bem cedo de BH e deu tempo de almoçar com todo mundo e de ver o jogo, que, aliás, foi triste: perdemos de um a zero.

No sábado, acordei, fui à Padaria do Lack para relembrar bons momentos e comprar um pão de sal quentinho. Tomamos café, eu, meu marido, Josafá (Fafá), e minhas primas Antonina (Có) e Maria Virgínia (Vivinha). Papo vai, papo vem, resolvemos passear pela cidade. Queria ir a pé, mas Fafá disse que Formiga já não é tão pequena e que não daria para ver quase nada. Fomos de carro.

Demos uma volta no Centro e ficamos impressionados com o trânsito. Ainda na Rua do Quinzinho, tivemos de esperar o fluxo na região da Ponte do Rio Mata Cavalo. Viramos na Rua Barão de Piumhi na esquina do Kit Sacolão e fomos até a Abílio Machado. Descemos a Avenida Brasil e viramos rumo ao Unifor, que está lindo. Podemos ver, inclusive, que há um cinema em frente. Do Bairro Água Vermelha, descemos até a região do Terminal Rodoviário, queríamos ver a Feira Livre. A gente a frequentava desde quando era ao lado do Campo do Formiga.

Paramos o carro, compramos abacaxis em um caminhão que fica perto da Ponte da Nestlé e seguimos passando de barraca em barraca. Vimos feirantes que já estavam lá desde quando a gente morava em Formiga. Saímos em 1982.

Fomos andando e revendo gente conhecida, até duas ex-alunas. Mais um pouco e quando já estávamos passando pela Rodoviária começamos a ouvir uma gritaria histérica. Parecia que alguém estava em trabalho de parto com um megafone na boca. Curiosos que somos, chegamos mais perto. Atravessamos a rua e vimos uma cena de dar vergonha. Uma moça vestida de farda camuflada imitando a do Exército (tipo pronta pra guerra) abriu a porta de trás de seu carro e gritava feito louca contra o resultado das eleições presidenciais. Umas outras pessoas que pareciam simples (tinha dois senhores mais velhos, três senhoras e uns seis ou sete adolescentes) esticavam uma faixa no canteiro central pedindo intervenção militar no país e pisando e matando a grama. “Forças armadas, salvem o país!” era um dos brados. “Não vamos deixar [o presidente eleito, Lula] subir a rampa!” era outro.

Que assustador! Que triste!

Em toda eleição, quem perde sempre reclama. Fica com raiva, diz que o povo vota mal, mas tudo fica por aí. Agora não, o negócio é dar uma de insano preocupado com a Nação pedindo um golpe militar. Olhei para as pessoas para ver se conhecia alguém, mas não vi ninguém.

O que impressiona em tudo o que está acontecendo é a falta de cultura e de conhecimento desses pobres coitados, uns bobos.

Falam que o Judiciário foi parcial, que o TSE escondeu o código fonte (que esteve disponível a quem quisesse meses antes da eleição) e que houve maracutaia. Falam isso só agora que Bolsonaro perdeu. E quando foi montado um esquema criminoso para tirar Lula da disputa nas eleições de 2018 não houve nada de errado, né? Nem o fato de o juiz que o condenou, um tal de Sérgio Moro, ter conseguido emprego de Ministro da Justiça do próprio Bolsonaro como se fosse uma recompensa… ora, tem de ser muito desinformado…

Terminadas as eleições, nenhum órgão social sério, nem OAB, nem observadores internacionais, nem os partidos e nem as próprias forças armadas viram fraude. Apenas o PL, como que para dar satisfação a Bolsonaro, quis resmungar, mas depois da multa de R$ 22 milhões por litigância de má fé, disse que não era bem assim o que queria dizer.

Olhei as pessoas e pude notar a paranoia coletiva gritando e atrapalhando o sábado. Só não vi os empresários que estão financiando a coisa. Há uma lista rolando por aí com nomes dos que doaram um total de R$ 21 mil para fretar ônibus para levar formiguenses a Brasília no manifesto antidemocrático do último dia 15 de novembro. Nenhum desses senhores abastados quis passar vergonha vestido de farda camuflada empunhando megafone na movimentada manhã de sábado perto da feira livre.