Opinião: Pequenas tragédias
Anísio Cláudio Rios Fonseca (de Formiga/MG)

Lecionar no ensino superior deve ser bem mais fácil que lecionar para o ensino fundamental e médio. Digo isso porque nunca lecionei para os últimos e, como se trata de crianças e aborrescentes, digo, adolescentes, deve ser bem complicado. Na verdade, os alunos chegam ao ensino superior com idades cada vez menores, pelo que tenho percebido. Junto levam aquelas manias de querer usar celulares em sala, o que não admito. Não estou pegando no pé desta turminha porque gosto muito deles, mas que é verdade, lá isto é. Embora seja meio desligado para certas coisas, percebo muitas vezes que muita gente batalha com dificuldade para ocupar uma carteira e assistir minhas aulas (e dos outros), logo, preciso fazer o meu melhor e não deixar que ninguém que leva uma vida mais fácil atrapalhe o andamento das coisas que tanto custam para tantos. Notei certa ocasião que uma aluna não estava conseguindo escrever nada numa prova que apliquei. Preocupado, sentei-me ao lado dela e ela desatou a chorar. Aprendi ao longo dos anos que nunca se deve interromper quem chora, mas sim esperar que a pessoa termine e, com a mente mais clara, possa discorrer sobre o que a aflige. Depois de se acalmar, ela me contou que não poderia continuar cursando por questões financeiras, já que havia perdido injustamente seu emprego. Disse a ela que nada que eu expressasse ia fazer com que ela se sentisse melhor ali, mas que ela podia ter certeza de que o tempo não ia ficar fechado por muito tempo. Não deixei que ela entregasse a prova em branco como ela tentou fazer e, embora não tenha tirado um notaço, ela passou sem problemas. O ano terminou, vieram as férias e, com o retorno das aulas, fiquei curioso para saber o que havia acontecido com minha amiga. Para minha surpresa, eu a encontrei muito feliz. Ela me agradeceu emocionada pelo meu apoio e me contou que pouco depois do semestre terminar, descobriram a injustiça e a recontrataram. Sim, fiquei muito feliz porque, de alguma forma, pude ajuda-la a mudar sua história para melhor. Embora tenha tido um final feliz, várias outras histórias parecidas passam desapercebidas por nós porque a maioria das pessoas mascara suas tragédias com sorrisos informais e, por isso, perdem a chance de que alguém possa ajuda-las de alguma forma. Muitas vezes pouco ou quase nada já são suficientes para fazer a diferença para alguém e, frequentemente, os mestres são a única família que crianças e jovens possuem, logo, esta missão é muito maior que a de meros transmissores de conhecimento. Isto não é revertido em mais grana no fim do mês, mas, com certeza, faz com que você recoste a cabeça no travesseiro e, isento de culpas, durma o sono dos justos.