Opinião: RESGATAR A CONFIANÇA

Frei Betto (de São Paulo)

Opinião: RESGATAR A CONFIANÇA
Frei Betto é escritor, autor de “Quando fui pai de meu irmão” (Alta Books/70), entre outros livros. Livraria virtual: freibetto.org




Como o governo Lula pode melhorar sua imagem nas futuras pesquisas

O governo Lula inicia o terceiro ano de mandato enfrentando um desafio central: recuperar a confiança de parcela expressiva da população que permanece cética quanto aos rumos do país. Apesar de avanços em áreas como o controle da inflação e o crescimento do PIB acima das expectativas em 2024, os índices de aprovação pessoal e do governo ainda oscilam em patamares inferiores ao desejado. Para reverter esse quadro e ganhar fôlego político até o fim do mandato, o governo precisa assumir prioridades claras, comunicar melhor seus feitos e fortalecer alianças estratégicas com a sociedade.

Um dos principais gargalos da atual gestão é a comunicação. Apesar de conquistas concretas — como a valorização do salário mínimo, o avanço em obras do PAC e em programas sociais —, parte significativa da população desconhece ou não associa essas medidas ao governo federal.

Lula e sua equipe precisam investir em uma comunicação mais ágil, direta e com linguagem acessível, especialmente nas redes digitais, onde a disputa de narrativas com a direita é feroz. É preciso sair da bolha institucional e conversar com o Brasil real — utilizar rádios regionais, influenciadores populares e lideranças comunitárias para levar a mensagem adiante. Dialogar com os segmentos religiosos, hoje em dia expressivos na formação da opinião pública e na mobilização popular.

Embora os indicadores macroeconômicos estejam melhores, a percepção no bolso do cidadão ainda é de dificuldade. O governo deve concentrar esforços em políticas que impactem diretamente na vida das famílias de renda mais baixa. Isso inclui: acelerar o programa Minha Casa, Minha Vida com foco na faixa 1 (renda mensal até R$ 2,85 mil), beneficiando os mais pobres; crédito acessível a pequenos empreendedores, especialmente informais e MEIs; nova rodada de valorização do salário mínimo e ampliação de programas de qualificação profissional (deveria ser a terceira condicionalidade do Bolsa Família); estímulo à indústria nacional e às compras públicas locais, em especial produtos da agricultura familiar, para geração de empregos em larga escala.

A pauta da segurança pública ainda é um ponto frágil. O aumento da violência urbana e a sensação de insegurança nas grandes cidades pressionam o governo a adotar uma postura mais assertiva. Lula precisa assumir o tema como uma prioridade nacional — sem ceder ao populismo penal, mas também sem se esquivar do debate. Daí a importância de ampliar o Programa Nacional de Segurança com Cidadania (Pronasci 2), priorizar a parceria com os Estados e investir em tecnologia para as polícias.

A governabilidade depende da articulação política. Lula deve fortalecer o diálogo com o Congresso, buscando pactos mínimos em temas de interesse popular — como reforma tributária sobre o consumo, desoneração da folha para setores estratégicos e regulamentação das plataformas digitais.

Também é crucial recompor pontes com setores do centro político e com governadores de diversos espectros ideológicos, promovendo uma agenda federativa que contemple obras, investimentos e programas sociais coordenados.

A juventude que em 2022 foi às urnas por esperança, hoje se mostra distante da política tradicional. O governo precisa ampliar as políticas para esse público — educação de qualidade, cultura periférica, esportes juvenis, apoio ao empreendedorismo jovem e protagonismo ambiental.

Programas como o Pé-de-Meia são importantes, mas precisam ser amplamente divulgados. O engajamento dessa geração será decisivo para a consolidação de um legado progressista e sustentável.

Lula voltou a colocar o Brasil no mapa geopolítico, mas essa atuação precisa gerar dividendos concretos internamente. A realização da COP30 em Belém em 2025, por exemplo, é uma oportunidade de ouro para posicionar o Brasil como referência em transição energética, proteção ambiental e inclusão social.

Ampliar os investimentos em energia limpa, proteção da Amazônia com emprego e renda, e cooperação internacional pode fortalecer a imagem do governo, especialmente entre setores urbanos e ambientalistas.

Mais do que disputas retóricas, a grande arma de Lula para reverter a imagem em queda nas pesquisas é entregar resultados concretos para quem mais precisa. Comunicar bem, priorizar o que importa e manter uma escuta ativa com a sociedade são pilares para resgatar confiança e garantir a governabilidade. O tempo ainda está a favor — mas o relógio político-eleitoral começa a acelerar.