Opinião: Todo cuidado ainda é pouco

Anísio Cláudio Rios Fonseca (de Formiga/MG)

Opinião: Todo cuidado ainda é pouco
Anísio Cláudio Rios Fonseca é professor do Unifor-MG, coordenador do laboratório de mineralogia e especialista em Solos e Meio-Ambiente




 Não quero ser repetitivo, mas se não o for, estarei sendo conivente com o absurdo. Tenho andado muito preocupado com os acontecimentos no nosso país ultimamente. A mídia tem divulgado notícias referentes a violências descomunais praticadas contra adultos e crianças e isto realmente tem me sensibilizado muito. Em uma destas notícias, uma manifestação dos sem-teto bloqueou uma rua em São Paulo e os manifestantes usaram seus filhos como escudo humano! Um policial exaltado pelo auge do conflito borrifou spray de pimenta em um manifestante que segurava seu filho pequeno no colo, como escudo também. Doeu em mim quando aquela criancinha fechou os olhinhos de dor e chorou. Será que ele não é pai também?

Graças a Deus nunca tive a dolorosa experiência de não ter onde morar. Eu e muitos de vocês, prezados leitores, sempre usufruímos os prazeres da casa própria, roupa lavada e comida quentinha sobre a mesa, embora tais prazeres nem sempre sejam valorizados como devem ser. Digo isto porque, bem nascidos e bem criados, nos falta a real percepção do desespero de não ter onde recostar a cabeça e dormir com certa segurança, com um teto sobre nós. Ver é bem diferente de experimentar, naturalmente. Por outro lado, por mais que fosse dura a minha vida, creio que nunca colocaria meus filhos na minha frente, como escudos humanos. Tampouco acho que nunca borrifaria spray de pimenta num pai que estivesse com um filho no colo, por mais errado que este pai estivesse. 

Acredito que o acontecido não foi devido a uma maldade inata das partes envolvidas, mas sim devido à grande pressão e stress sob os quais temos vivido, aonde vai se pensar no que foi feito depois do leite derramado. Numa sociedade desumana e desigual como a nossa, absurdos assim serão cada vez mais freqüentes, infelizmente.

Já comentei antes sobre esta maldita depressão que está dilapidando nossa sociedade e esta sim, está sendo causada pelo mal e pela opressão do dia-a-dia. A escalada da corrupção, da impunidade, da desigualdade social e da violência está passando a ser assunto comum na mídia e em nossas conversas, e seu impacto vai ficando cada vez menor porque estamos nos acostumando a isso tudo. Não ficamos mais tão indignados como antes, a não ser quando acontece ao nosso lado ou conosco. Muitos estão apenas interessados em saber o que aconteceu no capítulo de “O profeta” (a novela original era bem mais interessante) ou outras. Não tenho nada contra as novelas e outras atrações da TV, desde que sejam vistas apenas como entretenimento e não como outra coisa mais importante. Dou força mesmo para a TV educativa, torcendo para que ela passe a ser a grande atração nos lares brasileiros e acure o senso crítico da população. 

Importante mesmo é ser feliz, ter qualidade de vida. Isso tudo está sendo retirado de nós e no lugar está ficando apenas a violência, a corrupção e a tristeza. Estamos sendo encurralados, ficando sem saída e os inocentes estão pagando pelo erro de toda a sociedade. Rezo para que as crianças fiquem longe das violências de todo dia e que continuem sendo o nosso futuro, mas para isso temos que protege-las o tempo todo, educa-las, cuidar delas, brincar com elas e também aprender muito com elas para que possamos voltar a ser mais humanos.