Opinião: Um olhar mais profundo na nossa natureza

Anísio Cláudio Rios Fonseca (de Formiga/MG)

Opinião: Um olhar mais profundo na nossa natureza
Anísio Cláudio Rios Fonseca é professor do Unifor-MG e coordenador do Laboratório de Mineralogia do Unifor




Durante muito tempo tenho saído por aqui para aliar o prazer de um bom passeio com a pesquisa de campo, com ênfase em mineralogia e petrologia. Obviamente a biologia, principalmente botânica, é uma prioridade também. Nosso município é um laboratório fascinante que engloba a geologia e a biologia numa interação bem peculiar onde as duas vão se moldando com o passar do tempo. Possuímos solos derivados de diversos tipos de rochas, cada um com propriedades marcantes em termos físico-químicos e genéticos. Nossas cachoeiras, ah, nossas cachoeiras! Estas são um espetáculo à parte. Quem já se deliciou com elas jamais poluirá um rio ou o que for. Encaixadas em falhas nos grandes corpos rochosos, estas majestosas manifestações da força da gravidade são cinzeladas incansavelmente pelas águas que agem polindo e desgastando o substrato rochoso. Com isso, o caprichoso mosaico dos minerais que compõe a rocha vai se destacando e contando uma história que começou há milhões e milhões de anos, desde a consolidação do magma e posterior alteração por agentes metamórficos.

Este olhar mais técnico sobre nossas maravilhas naturais não retira de forma alguma sua poesia intrínseca. Na verdade, esse olhar mais técnico tem como objetivo estuda-las e protege-las, através de sugestões embasadas tecnicamente para implantação de práticas que visem sua integridade. Dolorosamente presenciamos o rio Pouso Alegre sendo dilapidado pela diminuição de suas matas ciliares, pela retirada de areia, pelo rebaixamento de seu talvegue. Enquanto tentamos freneticamente recuperar o rio Formiga e despolui-lo, não estamos dando a devida atenção ao nosso Pouso Alegre.  Projetos e práticas reais de recuperação das matas ciliares do Pouso Alegre podem e devem envolver Administração Municipal, ONG’S, UNIFOR-MG, moradores da região, mídia, judiciário, enfim, devem ser levadas a cabo para não ficarem só no papel. A criação do parque geoecológico e estação de pesquisa e monitoramento ambiental da bacia do Pouso Alegre pode ser uma realidade a curto prazo, caso haja vontade política, e ser uma promessa de proteção daquela reserva potencial de águas não poluídas. Embora careça de infraestrutura, aquela região pode ainda abrigar um turismo ecológico no futuro.

Estou frisando estas colocações sobre matas, rios e cachoeiras porque freqüentar locais banhados pelas águas já faz parte do folclore formiguense e esta é uma realidade a ser aproveitada para execução de interessantes projetos relacionados ao turismo e ao meio-ambiente. Sinceramente espero que haja muitas pessoas que, em seus passeios de campo, lancem olhares técnicos que acendam uma luz no fim do túnel do triste quadro ambiental que está se formando em nosso município. De minha parte, continuarei pesquisando, catalogando e fotografando nossas riquezas, para dividir com vocês esta honra de morar aqui, na cidade das águas e das areias brancas.

    

(Anísio Cláudio Rios Fonseca é professor do UNIFOR-MG, coordenador do laboratório de mineralogia e especialista em Solos e Meio-Ambiente)

e-mail: anisiogeo@yahoo.com.br