Política e privatizações: o que está em jogo na greve do metrô e CPTM

Política e privatizações: o que está em jogo na greve do metrô e CPTM
Paulo Pinto/Agência Brasil - 02/10/2023 Nesta terça, funcionários do Metrô, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) fazem uma greve conjunta por 24 horas em São




Nesta terça, funcionários do Metrô, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) fazem uma greve conjunta por 24 horas em São Paulo
Paulo Pinto/Agência Brasil - 02/10/2023
Nesta terça, funcionários do Metrô, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) fazem uma greve conjunta por 24 horas em São Paulo

A cidade de São Paulo amanheceu nesta terça-feira (3) com estações de metrô e a grande maioria das linhas da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) paralisadas devido à greve conjunta a Sabesp . O objetivo dos sindicalistas é lutar contra o plano de privatização levantado pelo governo estadual paulista.

Segundo os sindicalistas, a privatização do Metrô, CPTM e Sabesp acarretarão na piora da qualidade dos serviços. Como justificativa, eles trazem o caso das Linhas 8 e 9 da CPTM, que são geridas pela ViaMobilidade e somam mais de 160 falhas apenas no primeiro ano de gestão. Além disso, trazem como exemplo o caso no Rio de Janeiro, que privatizou o serviço de saneamento, sendo comandado pela Cedae, e também acumula diversos problemas.

Os grevistas pedem que a população seja "ouvida" sobre a política de desestatização, sugerindo que seja feito um plebiscito acerca da venda da Sabesp, como forma de consulta popular sobre a privatização. Segundo uma pesquisa feita pelo DataFolha, cerca de 53% da população paulistana é contra a venda da companhia de saneamento básico.

Em nota, os sindicalistas afirmam que "o direto de greve é constitucional, portanto, é legítimo. Cabe aos trabalhadores definirem os interesses pertinentes às suas categorias. Os trabalhadores do transporte e da água prestam serviços públicos e queremos que esses serviços permaneçam sendo públicos e de qualidade".

"Historicamente, o Sintaema exerce o direito de greve respeitando os direitos da população e assume o compromisso que desta vez não será diferente. O sindicato ressalta que a greve é uma das formas de luta que na trajetória do país levou a conquista de direitos dos trabalhadores (as) e defendeu melhores condições de vida para a população."

"A greve do dia 3 de outubro se volta para a defesa do direito à água, ao transporte e ao saneamento públicos com prestação de serviços de qualidade e tarifas justas para todo o povo de São Paulo. A privatização desses serviços fracassou no Brasil e no mundo. Em São Paulo vai resultar na dilapidação de um patrimônio do povo paulista, que é a Sabesp", finalizam.

Reação de Tarcísio

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), fez uma coletiva de imprensa criticando o movimento dos sindicalistas. Segundo ele, a greve é "abusiva, ilegal e política", além de afirmar que manterá o estudo dos projetos de privatização do metro e da CPTM.

Tarcísio ainda afirmou que a greve não foi convocada com intuito de reivindicar questões relacionadas a salário, mas sim como forma dos sindicatos atuarem "de forma totalmente irresponsável e antidemocrática, para se opor a uma pauta de governo que foi defendida e legitimamente respaldada nas urnas".

"A esfera de debate para privatização são as audiências públicas e não por meio da ameaça ao impedimento do direito de ir e vir do cidadão. É por meio do processo de escuta de diálogo das desestatizações que os sindicatos contrários devem se manifestar, de forma democrática, convencendo atores políticos e a própria sociedade de que a proposta do Governo de São Paulo não é a ideal", diz o governador.

"Infelizmente aquilo que a gente esperava está se concretizando. Temos aí uma greve de Metrô, CPTM, uma greve ilegal, uma greve abusiva, uma greve claramente política, uma greve que tem como objetivo a defesa de um interesse muito corporativo. E quem tá entrando em greve tá se esquecendo do mais importante que é o cidadão", disse Tarcísio.

Tarcísio ainda afirmou que a consulta pública é uma parte do projeto para a privatização, mas que a "discordância não pode ser motivo de paralisação". "Existe o momento e o foro adequados para dar contribuições", afirmou o governador.

Nas redes sociais, ele também se expressou criticando a atitude dos sindicalistas de promover uma greve contra as privatizações, dizendo que a população paulistana está " refém de sindicatos que manobram os trabalhadores do transporte público estritamente por interesses políticos e ideológicos".

Pacote de privatização

Chamado de " Pacotão de privatizações ", o plano de Tarcísio de Freitas engloba a desestatização do Metrô, Sabesp e trem até Campinas. O Programa de Parcerias e Investimentos (PPI) de São Paulo, já acumula 17 projetos de privatização de Parcerias Público-Privadas. Neste pacote, a construção da linha de trem que liga São Paulo a Campinas e a concessão da Linha 7 da CPTM já possuem data para o leilão, marcado para fevereiro de 2024.

Um estudo de R$ 62 milhões foi contratado pelo governo estadual para avaliar "as estratégias de participação do setor privado para expandir a capacidade de investimento" para a concessão do Metrô. O Ministério Público de Contas do Estado vai analisar os resultados do estudo após sua finalização, por denúncias de supostas irregularidades apontadas pela oposição.

A Sabesp, por outro lado, já teve o modelo de privatização definido . O governador informou que seguirá em um modelo "follow-on", em que o Estado vende as ações da companhia, deixando de controlar o serviço. Ao todo, o Estado é detentor de 50,3% das ações da Sabesp. A Justiça também foi acionada neste caso pela oposição, para entender o estudo que levou a escolha do formato.

Segundo o governador, mesmo com falhas, ele não irá rever as concessões. Ele já havia criticado em fevereiro deste ano o pedido do MP de finalizar o contrato da ViaMobilidade das Linhas 8 e 9, dizendo: "Não tem posicionamento a favor da ViaMobilidade, tem posicionamento a favor do usuário".

Fonte: Nacional